Bart, a conquista de um gato

Bart e a sua mãe, Liberdade, já andavam pela propriedade quando nos mudamos para cá. Habituados que estavam pelos antigos proprietários, rondavam a porta da cozinha à espera de sobras e procuravam abrigo nas noites mais frias e ventosas. No entanto permaneciam "selvagens", sem permitir uma aproximação e muito menos deixavam-se manipular.

Foi com a ajuda da APA - Torres Vedras que conseguimos que os dois fossem apanhados a fim de serem esterilizados, para a sua saúde e bem estar e a fim de evitar o aparecimento de ninhadas. Improvisado um quarto para a sua recuperação, permaneceram dentro de casa por algum tempo, mas sempre mantendo distância do contacto humano.

De volta ao terreno, continuaram a visitar-nos à busca de ração e água fresca e um sítio mais acolhedor para passar as noites mas continuavam a bufar e a eriçar-se face a qualquer tentativa de maior aproximação. Principalmente o pequenote Bart, reguila e eriçado.

Foram necessários 4 meses para finalmente termos sinais que o Bart podia ficar mais sociável. A Maria, que tem mais jeito, ou paciência,  para os gatos, contabiliza horas a falar com ele (para se habituar à sua voz), com ramos na mão na tentativa de o atrair para a brincadeira, com a r ação numa mão e a voz adocicada "na outra", até que um belo dia o refilão Bart decide enroscar-se nas suas pernas a ronronar. A partir desse momento foi um conquistar progressivo até ao ponto de se deixar tocar e sempre com a máquina de ronronar ligada.

Bart permanecia um gato livre e solto pelos terrenos e foi a protecção que a casa proporcionava que os traiu numa tarde de Verão em que ambos (mãe e filho) dormiam na garagem. Ambos foram atacados pelos nossos cães, movidos pelo seu instinto de caça. A Matilde, com uma história de protecção e defesa de uma quinta no seu passado, liderava o avanço. Depois de os conseguir separar e enquanto os cães eram levados para o seu canil, vimos Bart desaparecer por entre os arbustos mancando de uma pata. Esteve desaparecido durante quatro dias. Dias de angústia e de busca sem sucesso com os pensamentos a teimar nos pior cenário. Como já perceberam, o final foi feliz. Bart reapareceu à procura de comida, como se nada se tivesse passado. Ambos estavam de volta e pareciam estar bem.

A juventude é cheia de entusiasmo e inexperiência e passado algum tempo Bart foi novamente vítima da liberdade dos cães. Refugiou-se no cimo de uma árvore, sendo visível que estava ferido e a sangrar da zona da boca. Fora necessárias duas horas para a ele sair da árvore e mais duas para ele se aproximar da Maria. Seguiu-a como um cão... e foi levado ao veterinário. Levou 5 pontos no queixo, ficou sem um dente canino mas iria recuperar bem. Apesar de tudo, teve muita sorte. Novamente dentro de casa a recuperar, tínhamos 10 dias para decidir o seu futuro: voltava para a rua, proponhamos para adopção ou ficava a fazer parte dos residentes da casa do Bosque dos Pimpões. A decisão foi a última hipótese. Durante esse tempo de recuperação assistimos à sua transformação, num gato cada vez mais meigo e aceitar as carícias de todos. 

A decisão estava tomada. Apesar de alguma angústia por o separa da sua mãe e companheira, não iria voltar a ser colocado no terreno, não iria arriscar-se a ser de novo atacado pelos cães. Agora só tínhamos de o juntar ao gato-residente Tobias e confiar que com cautela, tempo e paciência ambos partilhassem pacificamente o espaço. Caso tal não acontecesse aí sim procuraríamos um lar para ele.
Os primeiros dias foram complicados. Enquanto o Tobias bufava, miava como nunca o tínhamos visto fazer, o Bart permanecia estático na sua cama sem se mexer, reagindo a alguns avanços ou para vir pedir festas... Apesar de tomadas algumas precauções e medidas (camas, comida e casas de banho separadas e distantes sem haver necessidade de se cruzarem para lá chegarem, a situação era geradora de preocupação e algum stress. Mas os “bufos” os miares foram diminuindo… e a esperança de que tudo acabaria em bem foi nascendo.
Tobias e Bart
Esta fotografia foi tirada passada uma semana e meia desde o 1º encontro de ambos. Hoje podemos dizer com orgulho que agora cá em casa há dois gatos, dois lindos gatos meigos e amigos! Hoje respira-se de alivio porque sabemos que o Bart irá continuar a fazer parte da família e amigos do Bosque dos Pimpões.

Que a história do Bart sirva de exemplo para nunca desistirem de tirar um animal da rua. Com paciência e dedicação um animal "selvagem" pode tornar-se num animal sociável e leal ao seu dono.